As irmãs Fox - História do Espiritismo - Parte III

 

Photo on Library of Congress Prints and Photographs Division Washington

As irmãs Fox - História do Espiritismo - Parte III

 

Antes de ler este artigo, convido-o a ler os anteriores:

Emanuel Swedenborg - História do Espiritismo - Parte I

e

Andrew Jackson Davis - História do Espiritismo - Parte II

O caso das irmãs Fox é cheio de polémicas, acusações de fraude, manipulações e histórias habilmente contadas só pela metade porque dá jeito.

Tentemos abordar os factos de todos os pontos de vista:

Hydesville é uma pequena localidade rural no condado de Wayne, perto de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América e em 1848 ocorreram uns fenómenos que chamaram a atenção e ficaram para a história.

Em 1847 a família Fox mudou-se para uma humilde casa nesta localidade.
Photo on Wayne County NYGenWeb site

O casal tinha mais filhos, mas só duas crianças viviam com os pais, a Katherine de 11 anos e a Margareth de 14.

De referir que a família era Metodista, uma igreja protestante (obviamente, nada contra, mas este facto será importante para o que vamos ler de seguida).

Numa noite do ano de 1848 iniciaram-se pancadas nas paredes e tecto da casa, as meninas com medo foram para o quarto dos pais. Nas noites seguintes repetiram-se as pancadas, mas aumentaram de intensidade e o fenómeno incomodativo passou a perturbar o sono de toda a família.

O Sr. Fox chegou a inspeccionar todas as divisões da casa e o exterior, mas não encontrou nada que fosse a origem do que estava a acontecer, até que a criança mais nova (a Katherine) já mais habituada (ou talvez conformada) com o fenómeno começou a desafiar a origem das pancadas a imitar os sons que ela fazia.

Com a educação metodista que tinham, tratou a origem dos sons por Sr. Pé Fendido, uma alusão ao demónio, daí o estar a tratar por senhor com pé de bode.

Assim, Kate solicitou à origem dos barulhos que a imitasse, para surpresa de todos, se a menina dava por hipótese 3 pancadas numa mesa com o nó dos dedos, de imediato o Sr. Pé Fendido respondia com o mesmo número de pancadas, se a menina simulava bater com os nós dos dedos (mas não chegasse a fazer o som), a origem do fenómeno dava o número de pancadas correspondente à simulação, o que levou de imediato a perceber-se que, fosse qual fosse a origem, tinha algum grau de inteligência, ouvia e via (para contar quantas vezes a menina tinha simulado bater com o nó dos dedos).

A notícia rapidamente se espalhou pelos vizinhos e nas redondezas de imediato surgiram as primeiras acusações de fraude, reforçadas pelo facto de o fenómeno só ocorrer de noite.

O Sr. Duesler (uma das pessoas que morava perto) idealizou um alfabeto para traduzir as pancadas em letras e iniciou-se uma espécie de telegrafia espiritual entre as pessoas que se deslocavam a casa dos Fox e a origem dos barulhos.

As primeiras comunicações rudimentares demonstraram que a origem dos sons sabia bastantes coisas das pessoas presentes, por exemplo a Senhora Fox ao questionar quantos filhos tinha, obteve a resposta de 7, ela insistia que tinha 6 filhos mas entretanto percebeu que a origem das respostas estaria a contar com um filho que lhe morreu em tenra idade.

Uma vizinha, Mrs. Redfield foi chamada e acabou por ficar apavorada por obter respostas correctas relativas a questões íntimas.

Entretanto o batedor invisível contou a sua história: dizia ser Charles B. Rosma, um vendedor ambulante que esteve hospedado naquela casa (quando esta era habitada por um casal conhecido no local por Bell) e que estes o teriam assassinado para lhe roubarem o dinheiro e a mercadoria, afirmou também que o tinham sepultado na cave.

De referir que estes fenómenos foram testemunhados por mais de duzentas pessoas que se juntaram no local, as meninas foram levadas para a casa de Mrs. Redfield e as pancadas continuaram a ocorrer, colocando desde já de parte a hipótese tantas vezes apontada de fraude por parte das irmãs que subsiste até hoje.

Arthur Conan Doyle o conhecido autor de Sherlock Holmes, era espiritualista, investigador nesta área, tendo inclusivamente sido Presidente Honorário da International Spiritualist Federation (organização dedicada ao estudo científico e filosófico do espiritualismo e espiritismo), no seu livro The History of Spiritualism, investigou e compilou este caso de Hydesville.
 
Photo on The History of Spritualism
Neste livro (que conseguem encontrar para download legal e gratuito na Internet) temos acesso aos depoimentos registados pela comissão de investigação da época, sendo que a sinopse de acontecimentos, a riqueza dos registos recolhidos e a abundante quantidade de testemunhas, torna difícil a quem investigue de boa fé e unicamente baseado nos factos, duvidar da veracidade do que ali ocorreu.
 
Das várias comissões de investigação organizadas ao longo do tempo, todas chegaram à conclusão da veracidade e ausência de fraude, no entanto, em 1888 pressionada e iludida pelo Cardeal Maning, que aproveitando as dificuldades de Margareth e prometendo-lhe uma série de favores pecuniários (que tanto jeito lhe faziam), esta acedeu a que fosse publicada uma reportagem no jornal New York Herald indicando que os fenómenos eram fraudulentos.
 
Para quem defende que a espiritualidade não existe, ou que considera este caso uma farsa, a história termina aqui. Inexplicavelmente abundam uma série de artigos na Internet onde se enfatiza esta confissão, ignorando ostensivamente (seja por desconhecimento ou por má fé) não só os resultados das comissões de investigação, mas também os dois factos que descrevo de seguida:

Um ano depois, atormentada pelo arrependimento e falta de honestidade, decidiu retratar-se perante um grande público que reuniu no Salão de Música de Nova Iorque, não só afirmando que os fenómenos eram reais, mas também tendo ocorrido uma série de fenómenos de efeitos físicos no salão repleto de pessoas.

Esta retratação foi publicada no dia 20 de Maio de 1889 na revista “Light” e no jornal norte-americano New York Press.

Por fim, em 1904 foi descoberto o esqueleto na cave da casa, tendo sido publicada a notícia no dia 23 de Novembro de 1904 no Boston Journal (um jornal não espiritualista).

A referida notícia inicia assim:

Rochester, Nova Iorque, 22 de Novembro de 1904: O esqueleto do homem que se supõe ter produzido as batidas, ouvidas inicialmente pelas irmãs Fox, em 1848, foi encontrado nas paredes da casa ocupada pelas irmãs e as exime de qualquer sombra de dúvida concernente à sua sinceridade na descoberta da comunicação espiritual.

Sugiro fortemente a leitura do livro The History of Spiritualism escrito por Arthur Conan Doyle onde encontra este tema muito bem desenvolvido e pormenorizado.

As irmãs Fox não eram espíritas, mas naturalmente este episódio pela sua importância e divulgação, tem bastante importância no desenrolar de acontecimentos que culminaram no surgimento do espiritismo.
História
20 novembro
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